Diário de um atento

Aqui na repartição, segunda é sempre igual. Olhos vermelhos, os nós das gravatas tortos, caras mal pintadas e amarradas e preguiça. Muita preguiça. É o dia da semana que o trabalho menos rende.
Os solteiros narram suas peripécias de fim semana, as solteiras contam os foras e que se arrependeram no domingo e os casados, bem, os casados já estão puxando o saco do Albuquerque, o novo chefe do meu andar. Ele até que é um cara legal, mas o pessoal aqui tem raiva dele por ele ter entrado no lugar da Marisa. Depois de mais ou menos sete anos sendo uma das mais eficientes do prédio, ela foi pêga no almoxarifado com o Robertinho, um dos motoboys mais rápidos da capital (sem dúvida!) e foi mandada embora. Quase rolou uma greve aqui, mas ninguém quer e nem pode perder o emprego. Depois disso a Má (para nós dos setor de distribuição) saiu e logo foi contratada pela concorrente. Já o Robertinho virou O Roberto, orientador-geral-de-entregadores. Ganhou sua promoção depois de conseguir provar e espalhar, para todos os 34 andares do prédio que ele era um entregadador sagaz!
A única coisa legal da segunda é o elevador na hora da saída. É nessa hora que da pra perceber (ou saber mesmo) quem comeu quem no fim de semana. O primeiro passo para saber disso é notar olhares de pessoas que entram no elevador nos andares de baixo. Por que a relação é a seguinte: sempre quem come está, no mínimo, um andar acima de quem deu. O único que mudou isso foi O Roberto. Sim é uma empresa machista. A segunda forma de saber disso é durante a espera do elevador, sempre chega alguém falando que foi tomar um cafezinho no tal andar e que aconteceu isso ou aquilo.
Bom, essa é a minha segunda! Meu nome é Adailton T. Prado Ramirez e eu sou Vice-Supervisor-de-entregas-interstaduais.
Obrigado!