12 de out. de 2008

Um texto sem pé nem cabeça (alguém já viu pé e cabeça em texto?)

*Adendo posterior: como o texto estava um bocado denso, achei que não ia vingar, mas, vingou, foi publicado no ODISCO, que bom! Tá aqui, acessem!

Filosofia e Música Pop

Em meio a tantos artistas e tantas bandas, tantas músicas novas e tamanha facilidade de acesso a elas; é de se admirar a quantidade de coisa ruim circulando por aí. A arte nunca esteve servida de tantos músicos, escritores, pintores, fotógrafos, dançarinos e cineastas de plantão e, no entanto, nunca sentira antes o seu status tão baixo e que seu lugar estava tão banalizado.

A explicação numérica para a quantidade de trabalhos de baixa qualidade talvez seja o boom demográfico - fácil: quanto mais gente, mais público e mais artístas (e mais ainda os ruins). Existe, também, e essa é interessante, uma outra explicação que engloba os fatores quantitativos e qualitativos; a democratização do acesso à arte, ou, segundo o coleguinha Walter Benjamin (grande filósofo alemão): a reprodutibilidade técnica (quem?!).

A reprodutibilidade técnica é o avanço da técnica, que ocorreu nos séculos passados e que permitiu, por meio do advento da fotografia, do “som” ou vitrola, do “xerox”, e do cinema, reproduzir a arte com alta perfeição (cara, quê que você ta falando?).

Antigamente, bem antigamente, só existia uma Mona Lisa, e nenhuma foto, e nenhuma cópia, e, só se ouvia música AO VIVO, já pensaram como era isso? Ouvir música era uma catarse coletiva, ou só se ouvia músicas próprias ou de amigos e familiares, ou era um acontecimento. Pois então, a capacidade de reproduzir músicas mecanicamente, através de um gramofone ou uma vitrola (ou da caixinha do seu PC), chutou o pedestal de onde se encontrava a arte, e ela foi ficando banal. Quanto mais acesso a músicas, mais músicos surgiram, e com mais artistas (e mais artistas ruins) e grande facilidade de se fazer música, a qualidade caiu.

A arte se desesperou e como passou a atingir mais pessoas, se instaurou uma competição quase doentia entre artistas, que passaram a fazer faixas para agradar o maior número de pessoas, e então a sinceridade, a arte pela arte, aquilo que tornava de alguma maneira a nossa música semelhante ou comparável com a dos animais foi sumindo. Não estou dizendo que acabaram os artistas sinceros, Bob Dylan não me deixa mentir, mas sinto que atualmente, muitas bandas parecem fazer músicas por obrigação, apenas por fazer. Obviamente existem as que vivem o ideal da arte e nos levam longe do lugar-comum, e nos fazem sentir aquela vontade de batucar o volante do carro e de cantar na hora do banho, e é por isso que estou aqui.

Se a arte é um espelho da sociedade e das filosofias desta; a música moderna, principalmente punk e eletrônica, pode ser comparada à pop-arte quase niilista do século XX, e o impacto (enorme) que a fotografia teve nas artes plásticas (culminando em diversas vanguardas abstratas como dadaísmo, cubismo e outras, já que a foto retratava a realidade mais fidedignamente) ao que a internet está tendo na música. Resta-nos surfar nessa onda e tomar cuidado para não sermos levados por ela. Resta-nos o senso-crítico e a coragem para combatermos os subprodutos da indústria cultural fazendo uma crítica honesta e construtiva, afinal, se queremos a sinceridade dos artístas, devemos, no mínimo, sermos leais à utopia que nos move, e fazermos isso pela música.


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